Escuta: Philomène é uma mulher alta, elegante, uma lady com olhos verdes de gata e uma aura de preguiça, sonolenta e sonhadora. Ela, de tão educada, não aponta para as coisas, pra mostrar algo ela faz o número quatro com a mão, e estende os dedos unidos para o que quer mostrar. Imagino quantos tapas ela levou até parar de usar o indicador. Pois ela, aos 17 anos, sofre um acidente de carro, perdendo dois dedos da mão direita. Após dois meses, já resignada com a mutilação e escolhendo luvas que usaria pelo resto da vida, uma coisa incrível acontece: Os dedos, contrariando toda a ciência conhecida, estavam nascendo de novo! Philomène vira uma celebridade, é considerada um milagre, atribuído ao santo que estava com a senha seguinte na lista do Vaticano, aparece em capas de revistas e reportagens de tv pelo mundo. O que ninguém contava é que os dedinhos renascidos vieram retorcidos, peludos e com unhas pontiagudas. Dedos de monstro na mão de uma dama. Ela não pode mais apontar para as coisas, pois aquela mão do demônio assusta a todos, e as pessoas querem ver os dedos, aquela coisa do inferno, na mão de uma mulher tão religiosa. Segundo depoimento de pessoas que estiveram lá naquela época, ela tentou arrancar os dedos e entrou numa espiral paranóica, dizendo que os dedos queriam matá-la.
Morreu alcoólatra, algum tempo depois. Foi encontrada na lixeira do Bar do Tafu, ao lado da igreja, com a mão decepada, uma faca de serra na mão e um imenso sorriso no rosto.
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