quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ZÉ, ZÉ...


O José, meu sogro, quando era moleque, aprontava algumas brincadeiras
bem violentas. A primeira de hoje é a do pino. Ele estava com um
primo, foram até a estrada de ferro e tiraram um cravo de metal que
prende os trilhos nos dormentes. Quando o trem veio, colocaram a peça
de metal sobre o trilho e ficaram de longe esperando pra ver o que
acontecia. Enquanto se aproximava a Maria-Fumaça, locomotiva inglesa
do século 19, com caldeira a vapor e chaminé fumegante, eles começaram
a pensar: E se esse trem sai do trilho, e além disto descarrila? Um
monte de gente ode morrer hoje, aqui, e por nosa causa! Temos que
fazer algo! O algo que fizeram é um exemplo de heroísmo e
responsabilidade. Saíram correndo, claro, na direção contrária, a
tempo de ouvir o tziiimmmmmermann, enquanto um fragmento do metal
destruído passava chispando ao lado das suas cabeças. O bom de tudo é
ver que estas experiências somam e muito ao caráter de uma criança,
pois quando terminaram de correr, depararam-se com uma carroça
estacionada junto de um mato. Como o dono não estava por perto,
tiraram as cavilhas, as peças de madeira que seguram as rodas no
lugar. Pediram para os cavalos não dizerem nada, e se esconderam numa
macega ali perto, para ver o espetáculo. Mas ali pagaram o ingresso:
Por horas enfrentaram um solão no estojo do pensamento, com medo de
pisar numa cobra cruzeira. Pra somar o castigo, o cachorro do dono
voltou mais cedo e ficava rondando o lugar onde eles estavam,
ameaçando atacar e morder as canelas dos sacanas. O esforço valeu?
Oié, assim que o carroceiro botou a nave a mover, caíram as quatro
rodas. Os dois filhos de duas boas mães vazaram sem fazer barulho, só
quando estavam do outro lado da sanga é que começaram a rir.

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