Essa se passou em Porto Alegre, onde eu atendia um cliente na minha agência de publicidade. Na primeira visita ao seu escritório, todo envidraçado e de frente para o Guaíba e seu pôr-do-sol, chegou o diretor para nossa reunião. Ele trazia em suas mãos um pedaço de camurça azul marinho, a cor oficial da empresa, onde ele equilibrava um bloco de notas, canetas, o celular, etc. Era apenas para fazer grau, aqui a gente chama de "balaca", pois além dele não poder cumprimentar ninguém com as mãos, o couro era mole e a aparência do conjunto era de uma trouxa de lavanderia.
Então, transcorreu tudo bem na reunião, marcamos novo encontro em uma semana. No dia marcado, resolvi devolver o grau. Já disse que a cor da empresa-cliente é azul marinho. Fui numa papelaria e comprei umas 100 folhas de papel azul-marinho. Na reunião, todos já à mesa, com seus bloquinhos brancos para anotações, joguei na mesa o meu bloco de papel azul marinho. Alguns presentes não se contiveram, chegaram a perguntar em voz alta: "Mas como ele vai escrever..." Pois saquei uma caneta especial de tinta branca, e comecei com toda a naturalidade a anotar o que era sendo discutido na reunião. O diretor adorou a idéia, eu estava surfando na crista da onda, até que... a caneta começou a falhar! De repente, acabou a tinta! E eu havia acabado de comprá-la! Pra minha humilhação, tive que pedir uma pausa no encontro e eu me abastecer de pena e folhas normais. O cara que me passou a caneta azul e folhas brancas, mandou junto um bazucaço: "Toma, bem-feito, veio aqui pra ganhar de nós e se ferrou". Baixei minha cabeça, mas sorrindo, eu havia feito algo que eles nunca viram ou imaginaram, que tenha durado apenas um instante, já valeu.
Às vezes a gente pensa em surpreender alguém e fica imaginando grandes feitos, eventos colossais, coisas gigantescas, quando na verdade, é no detalhe, ao mudar alguma pequena coisa é que se pode fazer algo inesquecível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário