segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SIM

Quando eu estudava no Colégio das Freiras, que era escola de rico que meu pai pagava com dificuldade e orgulho, tinha de vez em quando algumas colegas que estavam "estudando pra ser freira" e participavam das aulas com a gente. Elas eram espertas e interessadas, mas não conseguiam se enturmar, pois eram internas e não podiam sair, encontrar a turma lá fora. Uma em especial era muito gente fina, a Simone começou a tocar essa barreira, algumas meninas conversavam com ela no RECREIO, e eu, de bicudo, presenciei a elaboração de um plano de desmoralização da Simone. Três amigas ficaram na aula, comigo de castigo, durante os 15 minutos do RECREIO, e enquanto desenhava uma espaçonave das mais cuiúdas, com uma capitã ruiva de biquíni metálico, eu ouvi os cochichos pra pegar a Simone e "chamar ela de coisas". Dali elas saíram da sala, se juntaram a mais umas duas ou três e lá no fim do corredor, eu fui até a porta podia ver, a Simone encurralada no pé da escada sendo ofendida e ameaçada: Vagabunda! Freiririnha! Cadela! Senhora certinha! Eram ofensas por ser errada ou certa demais. A Simone, agarrada no corrimão, chorava, humilhada, e dizia: Vocês não sabem o mal que vocês tão fazendo pra mim...

Essa cena é tão nítida na minha cabeça que eu poderia desenhá-la ou filmar com extrema precisão de detalhes, os pisos hidráulicos verdes e pretos, as portas com um vão de vidro na parte de cima,  a sombra da Catedral de manhã, os taxistas, o Tafú morando debaixo da igreja...

Um comentário:

  1. Hoje o colégio das freiras é dos padres. Os ladrilhos verdes continuma em grande maioria. Bem como as portas com bandeira. Isso que eu entrei poucas vezes ali.

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