Tenho um frenje que tem uma empresa onde trabalha muita gente. E ele contrata de preferência pessoas com handicap, alguém com lábio torto, braço pequeno, coisas que não afetam em nada a capacidade de fazer o fazével de todo dia e mais: Como esse cara confiou neles sem olhar pros defeitos, cada um se jogaria na frente da bala para proteger o amigo. Isso é mais do que mais.
Eu já fui assim, já tive um handicap. Chamava-se óculos. Atrás deles, eu era uma pessoa com bem mais medo, incapaz de ir além, fosse numa roda de amigos, ou numa reunião de trabalho. Ali eu estava no modo "Los otros son mejores que yo". Undia, uma novela das 8 da Globo trouxe um personagem cafardalho, o nome era Renato Mendes. O Fábio Assunção fazia o súcubo, com cabelo meio comprido, aí a Naira me disse: Se tu deixar o teu cabelo crescer, vai ficar bem assim. Na época, dois mil e porco, eu usava o pelo corte dois, o que combinava com minha aparência de veterano de hospício. Com a grama negra viçando no meu escalpo, me encorajei a usar lentes de contato. Eu queria que as pessoas vissem a minha cara. O óculos fundo de garrafa é tipo uma máscara, as pessoas não vêem a tua expressão, e tu sempre tem que olhar de frente, é tipo uma janelinha.
Bom, daí vai que o modo do knob a partir dali foi "Todos suembos iguales, pocho". E aí as coisas mudaram. Umas pra melhor, outras pra bem pior. Perdi um de meus melhores amigos, todo dia, sem falha, eu tenho um momento em que sinto por essa distância de um bilhão de ParSec caber em poucas quadras. mas é isso aí, tenta não ser igual comigo que a coisa fede. Ou fica aferventando.
Mas o calor é bom. É onde rola a furducança. Olha pra noite sem lua e tu vai ver pontos brancos num tapete negro. O preto é o frio. Os pontilhos são o calor.
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