MEU TIO VIVENTE

Encontrei no submercado o meu tio Jorge. Passamos uma exata hora charlando dentro do estabelecimento, estou com a barriga doendo de tanto rir. Ele conta mil causos de infância, que vai colocar futuramente no papel, mas que já roubei pro meu jazigo de lembranças eternas: Conta que um dia pôde comprar seu primeiro par de chinelos, e todo mundo em casa avisou "Naõ bota no chão que vai sujar" com efeito, durou muito aquele parzinho de schlapas, pois ele só levava as Havaianas na mão... Outra feita, matou mais de 20 passarinhos com o bodoque, quando uma coruja, de costas vira a cabeça e encara. Tóim, uma pedra pegou bem na haste dos óculos dela. Com um amigo, assaram num espetinho e comeram. As irmãs dele, minhas tias, diziam que se tu come carne de coruja, fica com sede o resto da vida e sempre vai ter uma mosca te seguindo, ele dava risada disto tudo. Muito bom, bom, bom. No aguardo do seu livro, coluna de jornal ou roteiro de filme, com o que ele tem se pode fazer um universo. Na foto, ele é o que tá tocando violão, junto com outros luminares de Venâncio, bons de copo e de papo, gente divertida e séria, adulta e criança, e mais a Deneuve.