Quando eu éren onze, meu tio (que já morreu, como é costume falar entre minha turma de amigos) e dindo Lenor, o caçula dos irmãos de minha mãe, o galã da família, veio do Rio de Janeiro visitar a marencada. Sói que ele foi paraquedista do Exército no serviço militar, e segundo me contou, tinha dado 53 saltos. Ele me ensinou como cair, o que é Mae West e muito mais. Então, toda vez que ele vinha, eu arranjava um tecido de guarda-chuva velho, um peso de chumbo, fio de nylon, pra gente montar um paraquedas e ficar jogando pra cima e vendo ele descer, devagarinho. O tio botava a mão no peito, pro maço de oliú não saltar, mesmo quando a camisa não tinha bolso.
Vai que um dia, depois da aula, ele já tinha chegado! Que legal! Aí, encontro todo mundo na maior deprê. O que houve? O tio tinha tentado fazer o paraquedas antes de eu chegar, foi cortar o fio de pesca com a boca e quebrou um dente da frente. Putz, eu resolvi não comprar pra mim aquilo, o seu Lenor Sebastião Hermes não sabia que dente da frente só serve pra sorrir e o trabalho quem faz é o pessoal dos lados? Nada, abracei o tio e nem liguei. Depois o dindo deixou um bigode e isso não o impediu de viver sorrindo. Ele tinha um paraquedas de Porcelana, sim, uma relíquia de pendurar na parede, com o velame e o boneco de cerâmica e os fios eram cordões. Namorei esse troço por décadas, aí veio na minha mão e um ano depois caiu da parede no chão, quebrando em mil e sete pedaços. A piada interna dos meus amigos estava certa. Uma úlcera pegou-o desprevenido numa esquina do estômago e ele se foi, deixando dois filhos e a tia Aparecida, carioca da Pavuna, gente finíssima, como todo mundo que é gente.
Tio Band of Brothers.
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