terça-feira, 29 de março de 2011

SUPERMERCADO AO ENTARDECER

Estava eu com meu carrinho de tela, acelerando entre as gôndolas, fazendo curva fechada no expositor de escovas de dente, freada forte no carrinho de bebê, embalo, subo no bólido e pego uma carona, passando a um risco de lápis dos cristais, eis que me defronto com uma pessoa que foi marcante na minha vida. Deixou uma lembrança que nunquinha vou esquecer:
É o meu primeiro dia no jardim de infância. Meus pais trabalham duro para pagar o melhor colégio. A merenda que minha mãe deixa, duas laranjas do céu, descascadas, embrulhadas num guardanapo, na lancheira de plástico laranja, que olhando-se contra a luz do sol, fica vermelha. A menina, filha do dono da padaria ao lado da escola, em seu terreno natural, vem chorona até onde eu estou e pega uma das laranjas. Estendo a mão pra garrar de volta, a freira que tomava conta, como uma ninja, segura meu pulso e fala algo sobre repartir. Eu quero é repartir a cara dela. A menina é a menorzinha, então tenho um pouco de pena e deixo ela comer a laranja.
Ali está ela, com a mãe, fazendo compras. Não quis me aproximar, acho que eu me sentiria um imbecil tentando explicar algo que... sei lá, não tem moral nem cívica, é uma lembrança que eu guardo não por querer, mas porque sou uma prateleira humana.

2 comentários:

  1. queria saber por que a gente acha que vai parecer imbecíl... estou pensando nisto agora, além de me dispor a levar uma bifa!

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