Estava eu com meu carrinho de tela, acelerando entre as gôndolas, fazendo curva fechada no expositor de escovas de dente, freada forte no carrinho de bebê, embalo, subo no bólido e pego uma carona, passando a um risco de lápis dos cristais, eis que me defronto com uma pessoa que foi marcante na minha vida. Deixou uma lembrança que nunquinha vou esquecer:
É o meu primeiro dia no jardim de infância. Meus pais trabalham duro para pagar o melhor colégio. A merenda que minha mãe deixa, duas laranjas do céu, descascadas, embrulhadas num guardanapo, na lancheira de plástico laranja, que olhando-se contra a luz do sol, fica vermelha. A menina, filha do dono da padaria ao lado da escola, em seu terreno natural, vem chorona até onde eu estou e pega uma das laranjas. Estendo a mão pra garrar de volta, a freira que tomava conta, como uma ninja, segura meu pulso e fala algo sobre repartir. Eu quero é repartir a cara dela. A menina é a menorzinha, então tenho um pouco de pena e deixo ela comer a laranja.
Ali está ela, com a mãe, fazendo compras. Não quis me aproximar, acho que eu me sentiria um imbecil tentando explicar algo que... sei lá, não tem moral nem cívica, é uma lembrança que eu guardo não por querer, mas porque sou uma prateleira humana.
queria saber por que a gente acha que vai parecer imbecíl... estou pensando nisto agora, além de me dispor a levar uma bifa!
ResponderExcluirMas é uma bifa virtual, pelo menos.
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