quarta-feira, 4 de maio de 2011

O DIA EM QUE O DIABO TOCOU O BLUES

No palco, de frente pra toda aquela gente, de repente a energia caiu. Meia noite em ponto, a escuridão engoliu o ar. O oooooh das gargantas colou num aaaaahh quando a luz voltou. E ali estava ele, sobre as tábuas, chapéu e casacaõ molhados de chuva, a pele escura, uma Les Paul nas mãos tao negra e opaca que parecia queimada. Comeu o silêncio até que ele baixou a mão esquerda nas cordas, canhoto. E uma nota só soou, uma puxada que engasgou até o gambá que morava na ponta do balcão. Lá em cima, o ele fez um clique com a unha, eu vi, sem palheta. Desceu uma sequência de notas que parecia uma metralhadora, em câmera lenta, a bateria se atirou e todos criamos uma coragenzinha não sei de onde, pois a tremedeira era grande. Estranhamente, fiquei com muito frio. A galera no chao começou a urar com vontade, infinitas air guitars foram esmerilhadas, ninguém da banda olhava pra ele, encerramos o som no instinto e nos viramos no meio da gritaria, ele não estava mais ali. Ficou a poça de água no meio do stage. E não choveu naquele dia.

Na foto, uma das groupies do Tinhoso.

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